O sistema social de heróis no qual nascemos traça trilhas para nosso heroísmo, trilhas com que temos de nos conformar, às quais nos amoldamos de modo a poder agradar aos outros e tornamo-nos o que eles esperam que sejamos. E, em vez de trabalhar nosso segredo íntimo, aos poucos o escondemos e esquecemos, enquanto nos tornamos homens exclusivamente exteriores, empenhados continuamente no padronizado jogo de heróis no qual estamos por acidente, ligação de família, patriotismo reflexo, ou pela simples necessidade de comer e o impulso de procriar.
O “introvertido” não conserva essa busca interior plenamente viva ou consciente; esta representa algo mais que um problema vagamente consciente, como sucede com o homem imediatista engolido pela máquina. O introvertido acha que é um pouco diferente do mundo, tem algo em si que o mundo não pode refletir, não pode, em seu imediatismo e superficialidade, apreciar; e assim ele se mantém um tanto afastado desse mundo. Mas não em excesso, não completamente. Seria tão bom ser o que ele quer ser, concretizar sua vocação seu talento autêntico, porém é arriscado, poderia transformar seu mundo inteiramente. Afinal de contas, ele é basicamente sonhador, está em uma posição conciliatória: não é um homem imediatista, nem tampouco um homem real, apesar de dar a aparência disso.
E assim ele vive em uma espécie de “incógnito”, contente de divertir-se (em seus periódicos momentos de solidão) com a idéia do que poderia realmente ser; contente de insistir numa “pequena diferença”, de orgulhar-se, em seu mais recôndito íntimo, dos seus sonhos.
Texto extraído do livro ”A Negação da Morte” de Ernest Becker
Nenhum comentário:
Postar um comentário